quarta-feira, 29 de julho de 2009

Artigo Renata

As primeiras obras da arquitetura contemporânea revelam-se, internacionalmente, no início da década de 70 e no Brasil em meados desta década. Essa nova arquitetura aparece em meio a tantas críticas ao período moderno - considerado sério e adulto - e procura criar cenários, seduzir, brincar, criar efeitos, enfim é experimental. Busca na arquitetura do passado a inspiração para a garantia da qualidade e retoma as idéias construtivistas e confiança na tecnologia, do moderno, mostrando que não o rejeita. Entretanto também olha pra frente apresentando determinação e se nega a permanecer na “mesmice” que o moderno preconizou.
O período moderno caracteriza a arquitetura produzida, os movimentos e escolas arquitetônicas das décadas entre 10 e 50, do século XX. O princípio básico desta arquitetura era de renovar, rejeitando toda a arquitetura anterior ao movimento - principalmente a produzida no início do século XX, como o ecletismo - e produzir uma arquitetura livre de ornamentos e regras clássicas, uma arquitetura de vanguarda. Duas frases se tornaram ícones desse período: “menos é mais” de Mies Van der Rohe e “a forma segue a função” de Louis Sullivan. Entretanto, após a 2ª Guerra Mundial, houve a reconstrução de muitas cidades em linguagem moderna, o que não agradou a população em geral - por serem consideradas cidades “frias”, sem os laços culturais locais, sem identidade - somados à desvalorização dos programas de necessidades - através da busca sem limites pela síntese formal - a arquitetura moderna passou a ser fortemente criticada e precisava ser substituída. É nesse ponto que a arquitetura contemporânea começou a surgir.
A arquitetura contemporânea é dividida em três grandes correntes: as originadas através da arquitetura moderna, as lúdico/formalistas e as que se aproximam do paradigma da sustentabilidade. Neste artigo citarei seis das doze subcorrentes estudadas:
 neo racionalismo – derivada da arquitetura moderna: faz uso de muitas regras de clássicas de composição, contudo isso não é uma norma. Usa figuras geométricas, cores, texturas e arquitetura de topo e base. Pode-se dizer que é a mesma arquitetura moderna, porém aprimorando o que àquela tinha de ruim;
 estruturalismo - derivada da arquitetura moderna: é uma arquitetura de partes pequenas interligadas, onde cada parte tem uma função específica - sua ligação é feita através de passarelas ou estruturas virtuais. Seu ordenamento se dá de forma hierarquizada e nega a repetição e a monotonia. Somente é verificada quando é vista em planta baixa;
 neo expressionismo – derivada da lúdico/formalista: pretende ir contra a norma e faz uso da emoção através de sua forma. É de livre experimento, o que a torna individual. Em geral é um único bloco com adições e subtrações, o que acaba gerando prédios escultóricos;
 lúdica - derivada da lúdico/formalista: se propõe a brincar com quem a contempla - uma interação entre a edificação e o observador. É infantil, divertida e óbvia, pois nos dá a impressão de sempre parecer com algo e mexe com nosso imaginário. Em geral é considerada ruim;
 empirismo – derivada do paradigma da sustentabilidade: tem como fundamento principal a participação dos moradores e/ou comunidade no projeto. Faz referência à cultura e aos elementos arquitetônicos da região, tornando-se, também, regionalista. É considerada sustentável, porque espera-se que será mantida pela comunidade beneficiada;
 revitalização - derivada do paradigma da sustentabilidade: é uma restauração, que une o “velho” com o “novo”. Procura recuperar obras arquitetônicas que se encontram danificadas, para lhes garantir o real valor. Em geral se mantém o exterior da edificação - com pequenas alterações - e se modifica o interior.
A arquitetura de cada período foi caracterizada por elementos que garantiram a sua identificação, na arquitetura contemporânea não é diferente, alguns elementos são essenciais para sua identidade, neste artigo citarei cinco elementos considerados importantes:
 marcação de topo e base: é uma característica da arquitetura clássica, uma marcação - como diz o nome - que diferencia o topo e a base de uma edificação dos demais pavimentos, seja com o uso de texturas ou materiais diversos. Também pode ser trabalhada a marcação do acesso, através dessa característica. Na arquitetura moderna esse tipo de tratamento foi propositalmente esquecido;
 tratamento de superfícies: o acabamento pode ser feito de diversas maneiras, pelo uso de cores (de preferência não saturadas) ou texturas diferentes, pelo uso de materiais distintos, como a madeira ou o aço ou também pode ser feita através da escolha das esquadrias. O oposto do que ocorria na arquitetura moderna, onde o importante era a verdade da construção;
 tratamento de empenas: assim como o tratamento de superfície, o de empena pode ser feito com o uso de diferentes materiais, texturas e cores. Sendo o último o mais comum, criando listras, molduras, grafismos, formas geométricas, enfim, o que se adequar melhor esteticamente. No moderno as empenas não ganhavam nenhum tipo de tratamento ou então as vigas e lajes eram marcadas, através de uma cor diferente da usada na extensão da empena;
 arquitetura virtual: é o uso de um elemento com função meramente visual. É a continuidade de uma forma ou volume através de vigas, molduras ou mesmo uma parede, para garantir a unidade da edificação, para que não pareça que falta alguma parte. Na arquitetura moderna esse tipo de tratamento não existia, era considerado desnecessário, visto que a verdade arquitetônica imperava;
 utilização de “citações”: consiste em recriar algum elemento ou forma de uma obra marcante já existente, seja pra compor com o entorno ou meramente como uma referência. É importante que a citação seja bem adaptada, para não parecer apenas uma colagem na nova edificação. Os modernistas, por negarem o passado, jamais usariam tal recurso.
Em Pelotas as subcorrentes mais observadas são: o neo ecletismo, que muitas vezes faz referências ao seu entorno ou usa elementos marcantes dessa corrente, já que a cidade apresenta muitas obras ecléticas de qualidade; a neo racional, a qual foi caracterizada anteriormente e é uma adaptação do moderno, com tratamento de fachadas, empenas e acréscimo de topo e base; e a revitalização, também caracterizada anteriormente, que é a restauração de prédios antigos. Nos últimos anos, a cidade de Pelotas revitalizou diversos prédios tombados ou inventariados, através do projeto “monumenta”, que visa preservar esse patrimônio cultural. Correntes mais “experimentalistas” como a high tech, o neo organicismo, o neo expressionismo e o desconstrutivismo não estão presentes, visto que tais correntes são destinadas a edifícios únicos, marcantes, típicos de grandes cidades desenvolvidas.
Os elementos caracterizadores da arquitetura contemporânea são observados na cidade, alguns em maior escala e melhor qualidade que os outros. Porém, os projetos devem ser mais trabalhados - além do programa de necessidades, estudos de insolação e afins – através de estudos da arquitetura produzida no passado, a fim de buscar o que elas tinham de melhor, para tentar adaptar essas características de maneira que a edificação se adeque ao entorno, sendo estética e contemporânea.
Para concluir, cito um parágrafo do texto “Arquitetura contemporânea no Brasil: da crise dos anos setenta ao presente promissor”, encontrado no portal Vitruvius, escrito por Luís Henrique Haas Luccas :
“A produção de uma arquitetura contemporânea pede uma relação equilibrada com o passado, sem nostalgia nem desrespeito pelas suas lições. Como um alento, novos valores emergem na arquitetura brasileira, apoiados nos ensinamentos bons e maus da experiência pregressa, sem deixar de propor inovações e obter resultados atuais. Afinal, é o que se deseja.”

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